quarta-feira, setembro 10

A lógica das multidões

Inconsciente popular ou sabedoria das multidões?

Recentemente li o livro de James Surowiecki, chamado A Sabedoria das Multidões e compartilho com vocês aqui as idéias do autor.

O livro aborda essencialmente uma pesquisa sobre os poder de decisão de grupos face às decisões individuais. O autor defende que as conclusões de grupos coletivos frente a problemas de qualquer natureza, desde o mercado de ações, até decisões simples de comportamento em pesquisas de focus group, são naturalmente mais inteligentes do que de indivíduos isolados.

Um exemplo é a academia de cientistas, que, hoje, não pode se dar ao luxo mais de ter um cientista que entenda de todos os assuntos. Com a fragmentação das cadeiras da medicina, os médicos tiveram de escolher segmentos dela para seguirem suas pesquisas, o que obriga esses e tantos outros profissionais, a formarem grupos ou comunidades de interesse a seus temas e assim, discutir e tentar resolver problemas de pesquisa e outros interesses.

Algumas conclusões:

Peça a cem pessoas para responder a uma pergunta ou solucionar um problema, e a resposta média freqüentemente será pelo menos tão boa quanto a resposta do membro mais inteligente.

Em inteligência coletiva, algumas vezes a abordagem mais confusa é a mais esperta. Na verdade, estimular a diversidade é mais importante em pequenos grupos e em organizações formais do que no tipo de grandes coletividades – como mercados e eleitorados.

O desenvolvimento de conhecimento pode depender da manutenção de um fluxo de ingênuos e ignorantes e a vitória na competição não necessariamente cabe aos mais bem educados. A razão é que grupos homogêneos são muito bons fazendo o que eles fazem bem, mas se tornam paulatinamente menos capazes de explorar alternativas. Incluir novos membros na organização, mesmo quando eles são menos experientes e menos capazes, de fato torna o grupo mais sábio, simplesmente porque o pouco que aqueles novos membros conhecem não é redundante com o que todos os outros conhecem.

Em parte a avaliação individual não é suficientemente acurada ou suficientemente consistente, a diversidade cognitiva é fundamental para a boa tomada de decisões. O argumento positivo a favor da diversidade, como já vimos, é que ela amplia o conjunto de soluções possíveis de um grupo, e permite que o grupo conceitualize problemas de novas formas.

Um custo caro da homogeneidade é que ela estimula as pressões no sentido da conformidade que os grupos costumam aplicar sobre seus membros. Isso parece semelhante ao problema do pensamento grupal, mas na verdade é diferente. Quando existe uma pressão no sentido de conformidade, uma pessoa muda de opinião não porque realmente acredita em algo diferente, mas porque é mais fácil mudar de opinião do que desafiar o grupo.

A informação em grupos pode torná-lo mais esperto. Já que a multidão está certa a maior parte do tempo, o que significa que prestar atenção ao que os outros fazem pode torná-la mais esperta, não mais tola. A informação não está nas mãos de uma pessoa. Ela está dispersa entre muitas pessoas. Assim, confiar unicamente em sua informação pessoal para tomar uma decisão é a garantia de que ela será menos informada do que seria possível. Conclusão: os grupos são melhores para se decidir entre soluções possíveis para um problema do que são em chegar a elas.

Sobre a cooperação, a explicação tradicional sobre o porquê da interação dos grupos, a máxima foi dada pelo historiador Robert Axelrod, quando disse que a cooperação é o resultado de repetidas interações com as mesmas pessoas. A cooperação na verdade não é confiança, mas a durabilidade do relacionamento a longo prazo, o fato de atores confiarem ou não um no outro é menos importante do que a existência de condições favoráveis para o estabelecimento de um padrão estável de cooperação entre eles.

Uma outra palavra importante em inteligência coletiva: reciprocidade: as pessoas participarão mais se acreditarem que todos estão participando. Na questão de impostos, por exemplo, as pessoas estão dispostas a pagar sua parcela justa dos impostos, se acreditarem que as pessoas que não pagam seus impostos sejam apanhadas e punidas.

Por que os cientistas colaboram? Parte disso é resultado do que freqüentemente é chamado de ‘divisão do trabalho cognitivo’. Como a ciência se tornou mais especializada e como o número de subcampos em dada disciplina se multiplicou, passou a ser difícil para uma única pessoa conhecer tudo o que precisa. A colaboração permite aos cientistas incorporar diferentes tipos de conhecimento de forma ativa. A colaboração também torna mais fácil para os cientistas trabalhar em problemas interdisciplinares – que atualmente costuma estar entre os mais importantes e interessantes problemas científicos. Pequenos grupos enfrentam grandes desafios na solução de problemas e na tomada de decisões a eles podem perder muito tempo dividindo trabalho, discutindo os resultados e debatendo as conclusões.

Danilo Mota

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# postado por Danilo Mota : 9/10/2008
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